domingo, 1 de novembro de 2015

Os Mutantes

Os Mutantes são uma banda brasileira formada em 1966 por Rita Lee (vocais, flauta, harpa e composição), Sérgio Dias (guitarra, violão, vocais, e composição) e Arnaldo Baptista (baixo, teclado, vocais, e composição).
Embora durante seus anos de atividade fossem pouco conhecidos internacionalmente, Os Mutantes foram um dos grupos mais dinâmicos, talentosos e revolucionários da era psicodélica. Três experimentalistas musicais, a banda inovou no uso de feedback, distorção e truques de estúdio de todos os tipos.
A história dos Mutantes começa em 1964, quando Arnaldo Baptista é chamado para entrar no grupo The Wooden Faces por seu irmão Cláudio César Dias Baptista, então guitarrista da banda. Um ano depois, discordâncias em relação ao estilo musical que os Wooden Faces deveriam usar decretam o fim do grupo. Arnaldo e outro integrante, Raphael Villardi, conhecem Rita Lee e resolvem formar com Sérgio, irmão mais novo de Baptista, uma banda chamada Six Sided Rockers. Cláudio César fica "nos bastidores" construindo todo o equipamento, mesas de som e instrumentos da banda, até as lendárias Guitarras de Ouro de Sérgio e Raphael.
Em 66, gravam um compacto pela gravadora Continental com as músicas "Suicida” e “Apocalipse", como O'Seis. A banda não autoriza, contudo a gravadora decide lançar a gravação, que vende pouco mais de 200 cópias.
Durante uma briga no O'Seis, no final de 1965, com a saída de alguns integrantes e entrada de outros, o grupo mudou o nome para O Konjunto. Quando a formação da banda se reduziu a apenas um trio: Os Bruxos que logo a seguir foram rebatizados de Os Mutantes, por sugestão de Ronnie Von. Após conhecerem o cantor Ronnie Von, o grupo é convidado para acompanhá-lo em seu novo programa na TV Record. No dia 15 de outubro a banda tem sua estréia televisiva no programa O Pequeno Mundo de Ronnie Von. Em 1967, acompanham Gilberto Gil no Terceiro Festival da Record, ficando em segundo lugar com a canção Domingo no Parque. O evento marca a aproximação da banda com o movimento tropicalista.
Já em 1968 lançam seu primeiro LP pela Polydor, Os Mutantes um compacto com “O relógio” (de sua autoria), bastante inovador e experimental, claramente influenciado pelo trabalho dos Beatles. Com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé, Nara Leão, entre outros, gravaram em 1968 o LP Tropicália ou Panis et circensis, pela Philips.
Enquanto isso sozinhos, pela mesma gravadora lançam o segundo álbum em 69, Mutantes com “O relógio”, “Batmacumba” (Gilberto Gil e Caetano Veloso) e “Trem fantasma “(com Caetano Veloso) “Dom Quixote e Algo mais”. O conjunto aumentou com a entrada do baterista Dinho e do baixista Liminha.
A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado, lançado em 1970, foi um marco na carreira do grupo, que tenta se distanciar do tropicalismo e abraçar de vez o rock com os hits “Ando meio desligado” (Arnaldo e Sérgio) e “Desculpe, baby”. (Arnaldo e Rita Lee). Em 1970 concorreram ao V FIC com as duas músicas já citadas.
Em 71, o baixista Liminha e o baterista Dinho Leme são efetivados no grupo, que lança o disco Jardim Elétrico, com “Technicolor”, “It’s very nice pra chuchu” e o hard rock “Jardim elétrico”.
Em março de 1972 chega às lojas o disco Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets apresentando “Mande um abraço pra velha” , lançado em um dos períodos mais críticos da história brasileira. O álbum foi até mesmo censurado pelos militares. A faixa “Cabeludo Patriota” teve de mudar de nome, pois foi considerada subversiva e em sua gravação original, após ter sido censurada, foi mudada. Foram introduzidos efeitos vocais sobrepostos para esconder a frase "...o meu cabelo é verde e amarelo...". O LP inclusive mostra a transição da banda em direção ao rock progressivo, com influências evidentes dos grupos Emerson, Lake & Palmer e Yes.
Essa guinada seria um dos fatores que acabaria afastando Rita Lee do restante do grupo, e no final do ano a banda participa de seu último festival, o Sétimo Festival Internacional da Canção, onde são desclassificados em uma das primeiras fases. Em seguida, a vocalista anuncia sua saída dos Mutantes.
Em 1973, a banda então estréia um espetáculo, 2000 Watts de Som, e inicia a gravação de seu primeiro álbum sem Rita Lee, O A e o Z. Totalmente progressivo e cheio de temas e viagens instrumentais, o resultado final é considerado decepcionante pela gravadora Phonogram, que já desapontada com a saída de Rita, decide dispensar o grupo. Esse álbum foi lançado em 92.
Arnaldo lançou em 1974, pela Philips, um LP individual, Loki?, com “Será que eu vou virar bolor?” e “Cê tá pensando que eu sou loki?” (ambas de sua autoria).Os Mutantes continuam suas atividades, porém Arnaldo, já bastante debilitado mentalmente pelo uso contínuo de drogas (em especial o LSD) deixa a banda, seguido pelo baterista Dinho. Em 1975, foi lançado o bom e progressivo álbum Tudo foi feito pelo Sol. A poética utilizada nessa fase progressiva da banda era um “messianismo lisérgico”.

Liderada por Sérgio Dias, a banda consegue um contrato com a gravadora Som Livre e muda-se para Petrópolis, mas Sérgio passa por um período turbulento, tendo de lidar com várias brigas internas e trocas de integrantes. Depois de mais dois álbuns: os discos Cavaleiros negros (um compacto), de 1976 e Mutantes ao vivo, de 1977, todos pela Som Livre, ele decide terminar com o grupo em 1978.

O último show, no dia 6 de junho em Ribeirão Preto (e que ainda tinha, pilotando a mesa de som, Cláudio César Dias Baptista), não poderia ser mais bucólico: apenas cerca de 200 pessoas comparecem. Após lançar um disco solo, Sérgio então muda-se para os Estados Unidos, onde passa a trabalhar como músico de estúdio, dedicando-se principalmente ao Jazz.

Em 1982, Arnaldo Batista lançou seu segundo disco solo, Singin’ alone, pela gravadora independente Baratos e Afins. Pianista exímio, de formação erudita, Arnaldo é considerado o elo entre o pop tropicalista dos anos de 1960 e 1970 e o rock brasileiro renascido a partir da década de 1980.

Em 1996 foi lançado o disco-tributo aos Mutantes, Triângulo sem bermudas, pela gravadora Natasha, com vários artistas, incluindo Kid Abelha, Pato Fu, Lulu Santos, Arnaldo Antunes e Planet Hemp, interpretando clássicos do grupo.

No ano 2000 a gravadora Universal, dona do catálogo da extinta Polydor, finalmente resolve lançar Technicolor, que apresenta as canções gravadas pela banda durante sua passagem pela França em 1970. A ilustração e a caligrafia do álbum é da autoria de Sean Lennon.

Em abril de 2006, Os Mutantes anunciam o começo de um novo ciclo e o tão esperado retorno aos palcos com Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e Dinho Leme, baterista da formação original do grupo, com uma turnê pela Inglaterra e Estados Unidos. Para as partes vocais originalmente feitas por Rita Lee, foi chamada a cantora Zélia Duncan, convidada especial da banda. A primeira apesentação dos novos Mutantes em Londres foi gravada para futuro lançamento em CD e DVD, pela gravadora Sony BMG.

Uma curiosidade interessante sobre o grupo é que a guitarra de ouro de Sérgio, criada por seu irmão Claudio Cesar possuía uma maldição: "Conjuração do Sábado" gravada em uma placa banhada a ouro na parte traseira da guitarra: "Que todo aquele que desrespeitar a integridade deste instrumento, procurar ou conseguir possuí-lo ilicitamente, ou que dele fizer comentários difamatórios, construir ou tentar construir uma cópia sua, não sendo seu legítimo criador, enfim, que não se mantiver na condição de mero observador submisso em relação ao mesmo, seja perseguido pelas forças do Mal até que a elas pertença total e eternamente. E que o instrumento retorne intacto ao seu legítimo possuidor, indicado por aquele que o construiu”.

Discografia:

Os Mutantes (Polydor,1968)

Mutantes (Polydor,1969)

A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (Polydor,1970)

Technicolor (Polydor,1970 - Univ.Music,1999)

Jardim Elétrico (Polydor,1971)

Mutantes e seus Cometas no País do Baurets (Polydor,1972)

Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida (Polydor,1972)

O A e o Z (Philips,1992 - original de 1973)

Tudo foi feito pelo Sol (Som Livre,1974)

Ao Vivo (Som Livre,1976)

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