terça-feira, 24 de novembro de 2015

Legião Urbana

Brasília, meados de 1978, princípio do processo de abertura política que colocou término na ditadura militar. Aos 16 anos, Felipe Lemos, filho de um professor da Universidade de Brasília, retornara da Inglaterra com os pais para residir num conjunto de quatro edifícios com paisagem para o Lago Norte, designado de Colina. Os apartamentos eram amplos e serviam de casa para os professores.
Numa noite, uns amigos levaram Fê a uma festa onde o som tocava canções do Sex Pistols, Ramones e The Clash. Esperando descobrir quem era o possuidor dos discos, Fê foi apresentado a um cara diferente, que usava camisa social e andava segurando uma capanga numa mão e um guarda-chuva na outra. Era Renato Russo, que logo estava enturmado na Colina, aonde viria a se constituir o maior núcleo dos grupos de Brasília.
Renato Russo respirava música. Seu quarto era um festival com mais de 500 pôsteres. Tinha tanta coisa pra ver que quem entrava ficava horas olhando pras paredes. Havia também uma enorme quantidade de discos e livros e um aparelho de som com quatro caixas. Renato era do tipo aglutinador. Ligava para todos da turma, marcava as reuniões, tinha opiniões para atividades em grupo e quando começava a falar era complicado terminar. Muito bem informado, tinha uma cultura grande e gostava de projetar o futuro de sua própria existência.
Em 1978, Renato também conheceu André Pretorius, que percorria a capital com um visual punk e era filho de um diplomata na África do Sul. Pretorius e Fê haviam acertado de montar uma banda com André Muller, que estava residindo na Inglaterra. Mas Renato antecipou o ocorrido e chamou Fê e Pretorius para constituir um grupo com ele no baixo, Fê na bateira e Pretorius na guitarra.
"A gente tava na Colina sentado no chão, pensando qual seria o nome da nossa banda. Eu tava com um negócio de elétrico na cabeça e alguém falou comigo tijolo elétrico. Aí o André Pretorius falou: não, Aborto Elétrico", recorda Fê. E Renato começou a compor o repertório da banda. Estava pronta a "mãe" de todas os conjuntos musicais de Brasília.
Os ensaios do Aborto Elétrico eram na Colina. O primeiro show foi em 1980, no centro mercantil Gilberto Salomão, num bar chamado Só Cana, e foi instrumental pois Renato não cantava. Foi o primeiro e único show do Aborto Elétrico com Pretorius na guitarra. Ele foi para a África do Sul chamado pelas forças armadas de lá, envolvidas na manutenção do Apartheid. Alguns anos mais tarde, em entrevista à Sônia Maia na revista Bizz, Renato disse que o Aborto Elétrico acabou virtualmente quando Pretorius foi para a África do Sul.
A seguir, outras pessoas nos calços do Aborto Elétrico, montariam grupos, explodindo o fenômeno do rock de Brasília. Flávio Lemos, irmão de Fê o substituiu no baixo e Renato assumiu a guitarra. Os ensaios ocorriam na nova casa de Fê e Flávio no Lago Norte. Essa alteração do local dos ensaios para o Lago Norte, também determina o início do término da turma da Colina.
Renato sempre chegava com idéias de letras raivosas e radicais nos acordes de sua guitarra, falando até de morte. Renato era um catalisador de angústias na sua poesia, apesar de ser terno e afetuoso no cotidiano. Ainda em 1980, Pretorius retornou para férias em Brasília e participou de ensaios importantes para concepção de "Música Urbana", "Que País É Este", "Veraneio Vascaína" e "Conexão Amazônica", todas canções que teriam grande impacto no rock brasileiro. Em 1985, contudo André Pretorius faleceu de overdose nos Estados Unidos.
O auge do Aborto Elétrico aconteceu em 1981. Foram vários shows com outras novas bandas de Brasília, todas originárias de alguma forma da Colina. No meio do ano Ico Ouro Preto assumiu a guitarra do Aborto Elétrico e Renato passou a se ocupar apenas dos vocais. O cantor, compositor e ex-guitarrista do Aborto Elétrico, Renato Russo, vivia falando de como seria sua carreira numa banda de rock. O grupo estava em plena atividade nas festinhas, nos colégios, e em festas de aniversário. Mas para Renato era pouco.
O fim do Aborto Elétrico aconteceu em março de 1982. Na BIZZ, ainda falando à Sônia Maia, Renato disse que o grupo terminou numa briga por causa da música "Química", um dos primeiros clássicos da Legião Urbana. Segundo Renato, Fê lhe disse que "Química" era muito ruim e o acusou de ter perdido o jeito de fazer música. Renato respondeu que Fê só queria ficar fazendo camiseta e pediu o boné. Fê Lemos concorda que foi esse o momento de ruptura, mas o clima entre os dois não estava bom já havia algum tempo.
Aconteceram outras brigas entre Fê e Renato. Uma delas foi no primeiro aniversário da morte de John Lennon, um dos grandes ídolos de Renato. "Fomos fazer um show numa cidade satélite e o Renato tava super sentido. Eu fiquei com ciúmes. Quando ele errou uma música, atirei uma baqueta nele e acertei na cabeça. Ele me olhou com uma cara horrível e sumiu depois do show. Aí saquei o que eu tinha feito. Fui pra casa dele e só faltou me jogar aos seus pés. Era uma amizade muito forte, tinha um quê de mágico, porque nos conhecemos através dos discos de punks".
Renato Russo e Fê Lemos tinham 22 e 20 anos, respectivamente. Até aquele momento eram os principais líderes da turma de Brasília, os fundadores do Aborto Elétrico, a primeira banda punk da cidade, os aglutinadores do movimento. Mas o fim do Aborto Elétrico mudou destinos e separou os amigos em banda diferentes. Mesmo sem Renato Russo, Fê tentou manter o Aborto Elétrico. Afinal, eles já tinham uma certa fama no circuito alternativo de Brasília. Como numa despedida oficial, Fê chamou Renato para uma última apresentação com o grupo. Renato foi e o Aborto Elétrico teve a sua derradeira aparição. Seis meses depois Fê foi convidado para entrar no Capital Inicial. Flávio foi com ele.
Era 1982 e a semente lançada em Brasília pelo Aborto Elétrico havia gerado muitos frutos em forma de bandas de punk rock. Com o fim do Aborto Elétrico, Renato intitulou-se O Trovador Solitário e, com um violão, tocava abrindo shows de outros grupos locais e apresentando novas composições, como "Faroeste Caboclo". Mas Renato não queria seguir sozinho. Ele achava que era importante ter uma banda no mundo do rock.
Nesse mesmo ano, Renato formou a Legião Urbana que permaneceu ativa de 1982 a 1996. Ela se tornou um dos maiores sucessos musicais do país, somando um total de mais de 15 milhões de discos vendidos. Até hoje, a Legião Urbana é a banda de rock brasileira que mais vendeu, sendo a única que ainda possui todos os seus discos em catálogo à venda. O estrondoso sucesso mesmo depois do fim da banda aliado ao culto ao seu líder, Renato Russo, só fez aumentar o mito em torno dela.
Formada no início dos anos 80 após a dissolução do Aborto Elétrico, tinha como principal figura, o vocalista Renato Manfredini Júnior, o Renato Russo (1960-1996), que foi o mentor da banda junto com o baterista Marcelo Bonfá. O primeiro show da Legião Urbana aconteceu no dia 05 de setembro de 1982 na cidade mineira de Patos de Minas, e esse foi o único show em que a banda apareceu com a sua primeira formação, que tinha: Renato Russo (vocalista e baixista), Marcelo Bonfá (baterista), Paulo Paulista (tecladista) e Eduardo Paraná (guitarrista).
A banda foi uma dos nove atrações do festival Rock no parque, realizado na cidade de Patos de Minas em 05 de setembro de 1982.Na verdade, a Cadoro Promoções - empresa responsável pela produção do festival - tinha contratado o Aborto Elétrico e até impresso centenas de cartazes com o nome da band formada por Renato Russo, Fê Lemos e André Pretorius. Mas como o grupo tinha acabado, Renato convenceu o dono da produtora, Carlos Alberto Xaulim, a se apresentar com banda que tinha acabado de formar com o baterista Marcelo Bonfá.
Após este show, Paulo Paulista e Eduardo Paraná deixam a Legião Urbana. O próximo guitarrista seria Ico Ouro-Preto, mas é logo substituído por Dado Villa-Lobos, que assume a guitarra da Legião em março de 1983. Observação: Ao contrário do que muitos dizem, o guitarrista André Pretorius nunca tocou na Legião Urbana, ele só fez parte da banda Aborto Elétrico.
No dia 23 de julho de 1983, a Legião faz no Circo Voador, Rio de Janeiro, um show que mudaria a história da banda. Após a apresentação a banda é convidada a gravar uma fita demo com a EMI.
Em 1984 começa a gravação do primeiro disco, que foi lançado no dia 1° de Janeiro de 1985. O baixista Renato Rocha, amigo de Marcelo Bonfá, tocou com o trio nos três primeiros álbuns, mas deixou a banda devido a desentendimentos com os outros membros.
Lançado no dia 1º de janeiro de 1985, pela EMI, o primeiro álbum da banda: Legião Urbana, é extremamente politizado, com letras que fazem críticas contundentes a diversos aspectos da sociedade brasileira. Paralelamente, possui canções de amor que foram marcantes na história da música brasileira, como "Será", "Ainda é cedo", “Geração Coca-Cola” e "Por Enquanto", que é considerada como sendo "a melhor faixa de encerramento de um disco".
Foi lançado em 1986, o álbum: Dois. É o segundo album mais vendido da banda, com mais de 1,2 milhões de cópias. Esse disco é um dos mais importantes da história do rock brasileiro. As principais músicas do disco são: ”Quase sem querer”, “Eduardo e Mônica”, “Tempo perdido” e “Índios”.
O terceiro e importante disco do Legião Urbana: Que país é este chega às lojas. Das nove canções do disco, sete eram do antigo Aborto Elétrico. Este é o album mais punk da Legião Urbana e contém em seu encarte, uma breve história da banda. Foi o último trabalho com a participação do então baixista Renato Rocha. Alguns hits da obra são: “Que país é esse?”, “Química”, “Eu sei”, “Faroeste Caboclo” ( que foi uma música que impressionou público e crítica, por ser uma música de mais de nove minutos de duração e que mesmo assim tocou bastante nas rádios) e a calma “Angra dos Reis”.
Considerado por muitos o melhor trabalho da Legião Urbana, As Quatro Estações contém o maior número de hits da banda: são 11 músicas, das quais pelo menos 9 foram tocadas incessantemente nas rádios. Algumas músicas de destaque são: “Pais e filhos”, “Há tempos” e “Meninos e meninas”. É o álbum mais vendido da Legião, vendeu mais de 1,7 milhoes de cópias e é considerado o disco mais "religioso" da banda.
Lançado em Novembro de 1991, V é o disco mais melancólico da Legião Urbana; talvez, só A Tempestade se equivala a ele nesse aspecto. Renato estava em um momento complicado de sua vida, com a descoberta de que era soropositivo um ano e meio antes e o alcoolismo. V é recheado de canções atípicas para os padrões da banda como por exemplo, a atmosférica "Metal Contra As Nuvens", com seus mais de 11 minutos de duração, a densa "A Montanha Mágica", a crítica social de "O Teatro dos Vampiros" e a depressão de "Vento No Litoral". Para boa parte dos fãs mais fervorosos, esta é a obra-prima da Legião Urbana.
O álbum: O descobrimento do Brasil é de 1993, época em que Renato Russo tinha iniciado o tratamento para livrar-se da dependência química e mostrava-se otimista quanto ao seu sucesso. Ainda assim, as letras oscilam entre tristeza e alegria, encontros e despedidas. É como se, para seguir em frente, fosse necessário deixar muitas coisas para trás, e não se pudesse fazer isso sem uma boa dose de nostalgia. Desta foma, é um álbum com fortes notas de esperança, mas permeado por tristeza e saudosismo. “Perfeição” e “Giz” tocaram nas rádios.
Há quem considere este álbum: A tempestade ou o livro dos dias, lançado em 20 de setembro de 2006, o último da banda. Curiosidades: Na capa interna do disco, há um verso que diz "O Brasil é uma República Federativa cheia de árvores e gente dizendo Adeus", e na faixa “Música Ambiente” há um trecho que diz "...e quando eu for embora, não, não chore por mim...", sugerindo uma despedida antecipada. “Dezesseis” foi um sucesso do disco. Renato Russo faleceu 21 dias após o lançamento, em 11 de outubro de 1996.
O Disco póstumo da Banda: Uma outra estação traz gravações feitas do que seria o novo álbum da Banda, mas Renato Russo morreu e a EMI mesmo assim publicou essa obra, em 1997, que tem músicas completamente depressivas, expressando toda a dor quando a pessoa sabe que vai morrer. O último show da Legião Urbana aconteceu no dia 14 de janeiro de 1995, numa casa de shows chamada Reggae Night em Santos, litoral do estado de São Paulo.
O fim oficial da Legião Urbana aconteceu no dia 22 de outubro de 1996, 11 dias após a morte do mentor, líder e fundador da Legião Urbana, o cantor Renato Russo. Apesar de ter terminado há muitos anos, até hoje a Legião continua tendo muitos fãs.

Discografia

Legião Urbana (EMI, 1984)

Dois (EMI, 1986)

Que País É Este 1978/1987 (EMI, 1987)

As Quatro Estações (EMI, 1989)

V (EMI,1991)

Música Para Acampamentos (coletânea de diversas gravações ao vivo) (EMI, 1992)

O Descobrimento do Brasil (EMI, 1993)

A Tempestade ou O Livro Dos Dias (EMI, 1996)

Uma Outra Estação (EMI, 1997)

Mais do Mesmo (coletânea) (EMI, 1998)

Acústico MTV (gravado ao vivo em 1992) (EMI, 1999)

Como É Que Se Diz Eu Te Amo (gravado ao vivo em 1994) (EMI, 2001)

As Quatro Estações Ao Vivo (gravado ao vivo em 1990) (EMI, 2004)

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Capital Inicial

Capital Inicial é uma banda de rock nacional, nascida no começo dos anos 80 em Brasília, após o grupo Aborto Elétrico concluir as atividades, dando origem ainda à banda Legião Urbana.
Brasília, maio de 1983. Um grupo de jovens é preso por usar pulseiras de tachas e alfinetes, sob a justificativa destes acessórios serem armas potenciais. O contra-golpe veio no editorial do Fan Zine, em seu segundo número, escrito por um jovem que assinava apenas "Dinho". O Fan Zine apresentava outros temas, como a "Discografia básica da nova música", que incluía Sex Pistols, The Clash e Ramones, entre outros.
Na publicação, lia-se um pequeno cenário do punk rock de Brasília (com letras do Aborto Elétrico e Plebe Rude), quadrinhos, poesias e textos de diversos colaboradores. A atitude deste grupo que exibia seus pensamentos através da música, de fanzines e de seu estilo, pode ser caracterizada pela música "Geração Coca-Cola", de Renato Russo, como fez Jamari França em artigo publicado no Jornal do Brasil, em 12 de novembro de 1984: "Depois de 20 anos de escola / não é difícil aprender / todas as manhas deste jogo sujo / não é assim que tem que ser? / vamos fazer nosso dever de casa / aí então vocês vão ver / suas crianças derrubando reis / fazer comédia no cinema com suas leis. / Somos os filhos da revolução / somos burgueses sem religião / somos o futuro da nação / Geração Coca-Cola".
O conjunto foi primeiramente formado em 1982 pelos irmãos Flávio (baixo) e Fê Lemos (bateria) ex-componentes do Aborto Elétrico, ao lado de Renato Russo, Loro Jones (guitarra), proveniente da banda Blitz 64, com mais uma garota nos vocais, logo depois substituída por Dinho Ouro Preto, em 1983, após um estágio do mesmo como baixista da banda "dado e o reino animal" (assim mesmo, com letras minúsculas), onde também tocavam Dado Villa Lobos e Marcelo Bonfá, entra para os vocais. A banda surgiu com um estilo que mistura rock, pop, new wave e pós punk.
Em julho estréiam em Brasília, tocando em seguida em São Paulo (SESC Pompéia) e no Rio de Janeiro (Circo Voador). Aliás, esta foi uma das características marcantes do início da carreira: as constantes viagens e apresentações nos principais palcos do underground do rock brasileiro.
Em 1984, o ritmo cada vez maior de viagens indica a necessidade de estarem mais próximos do seu principal mercado, as regiões Sudeste e Sul. No final do ano assinam seu primeiro contrato fonográfico, com a CBS (atual Sony), e se mudam para São Paulo no início de 1985.
A seguir, em seguida, lançam seu primeiro disco em vinil, o compacto duplo Descendo o Rio Nilo/Leve Desespero. No mesmo ano, integram o elenco da trilha sonora do primeiro "filme-rock" brasileiro: Areias Escaldantes, de Francisco de Paula, ao lado de Ultraje a Rigor, Titãs, Lobão e os Ronaldos, Ira! e Lulu Santos.
O primeiro LP, Capital Inicial, já pela Polygram, foi lançado em 1986 e recebeu ótimas críticas. O jornalista Mário Nery no caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo, em 29 de julho de 1986 faz a seguinte crítica: "Um rock limpo, vigoroso, dançante e sobretudo competente, a quilômetros de distância da mesmice que assaltou a música pop brasileira nos últimos tempos". O álbum trazia músicas como "Música Urbana", "Psicopata", "Fátima", "Veraneio Vascaína" (censurada pela Polícia Federal), "Leve Desespero" entre outras, e levou o Capital Inicial ao seu primeiro Disco de Ouro (“Música Urbana" e "Fátima", compostas em parceria com Renato Russo).
Em 1987, contando com o tecladista Bozzo Barretti em sua formação, o Capital Inicial lança seu segundo disco, Independência, emplacando "Prova", "Independência", a regravação de Descendo o Rio Nilo, e conquista o segundo Disco de Ouro. Neste ano, eles são convidados para abrir os shows da turnê do cantor inglês Sting em São Paulo (Estacionamento do Anhembi), Rio de Janeiro (Maracanã), Belo Horizonte (Estádio Independência), Brasília (Estádio Mané Garrincha) e Porto Alegre (Estádio Beira Rio).
Você Não Precisa Entender chega às lojas de todo o país em 1988, com mais hits: "A Portas Fechadas", "Pedra na Mão" e "Fogo".
1989 marca o lançamento de Todos os Lados, com destaque para as faixas "Todos os Lados", "Mickey Mouse em Moscou" e "Belos e Malditos". Em 1990 participam do festival Hollywood Rock, realizado em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Eletricidade, lançado em 1991, marca o início de mudanças no Capital Inicial, começando pela gravadora. O álbum, lançado pela BMG, trazia uma versão para "The Passenger", de Iggy Pop, batizada de "O Passageiro", e composições como "Kamikaze" e "Todas as Noites". Neste mesmo ano, participam da segunda edição do festival Rock in Rio.
Em 1992, Bozzo Barretti larga o grupo, e em 1993, divergências musicais e pessoais levam Dinho Ouro Preto a seguir carreira solo. Ao longo da década, o Capital Inicial fez bastante sucesso, mas no início dos anos 90, entrou em crise pela baixa venda de discos além da desarmonia, já mencionada entre os integrantes.
Ao mesmo tempo, o Capital Inicial, agora com o santista Murilo Lima (ex-banda Rúcula) nos vocais, lança Rua 47 (94) e Ao Vivo (96), o primeiro pela Qualé Cumpadi Records, gravadora independente que a banda monta, e o segundo pela Rede Brasil Discos, atual Alpha Discos. Durante os próximos 5 anos a banda praticamente desaparece da mídia, levando muitos a acreditar que a banda tinha acabado. Mas a verdade é que a banda nunca parou de excursionar e fazer shows, e se manteve ativa numa época de baixa do rock brasileiro.
São Paulo, março de 1998. Amadurecidos, depois do lançamento, pela Polygram, do CD O Melhor do Capital Inicial, da firme execução de suas músicas pelas maiores emissoras de rádio, além da ajuda dos fãs - que sustentaram o Capital Inicial com seu apoio - seus quatro componentes originais decidem retornar aos palcos.
Dinho Ouro Preto, Loro Jones, Fê e Flávio Lemos retornam à estrada com um novo show, uma celebração aos 15 anos da banda e aos 20 anos do surgimento do rock candango. O repertório traz hits, faixas pouco conhecidas e composições de bandas que fizeram parte da cena de Brasília nos anos 80, como Plebe Rude, Legião Urbana e Finis Africae.
Em Julho do mesmo ano a banda firma contrato com a gravadora Abril Music, e em Setembro vai para Nashville no Tennesse, EUA, onde gravam Atrás dos Olhos. Este trabalho é produzido por David Zá, que entre tantos trabalhou com estrelas como Prince e Billy Idol. As canções mais executadas desse disco foram "O Mundo" de Pit Passarel, ex-guitarrista da banda Viper e amigo da banda, "1999" e "Eu Vou Estar". Todos esses sucessos tiveram videoclipes com grande repercussão junto ao público da MTV, sendo que "O Mundo" competiu por cinco prêmios no MTV Awards Brasil de 99.
Este mesmo ano de 98 observa-se ainda o lançamento de mais duas coletâneas pela Universal (ex - Polygram): um CD da série Millenium, com 20 canções retiradas dos quatro primeiros LP’s, e um CD de músicas da banda remixadas por produtores e DJs ilustres do Brasil. Infelizmente esta mesma gravadora reluta ainda em relançar os discos originais, apesar do certo dano que tal atitude traz à banda, além de desagradar dos fãs.
O ano de 1999 é exclusivo à turnê brasileira, e ao longo dos shows a banda, além de antigos fãs, encontra uma nova platéia: os jovens que não tinham conhecimento de suas primeiras obras. Então nasce a idéia de um disco ao vivo que junte novas e velhas músicas. Ligeiramente ela se transforma na concepção de um Acústico, em sociedade com a MTV.
O último ano do século 20 começa com a banda se organizando para gravar o Capital Inicial - Acústico MTV, que acaba ocorrendo em Março. O disco é lançado dia 26 de Maio, e a primeira tiragem logo se esvai nas principais lojas do país. O primeiro sucesso escolhido para tocar nas rádios, "Tudo Que Vai", de Alvin L. e Dado Villa-Lobos, é amplamente absorvido por todo o Brasil, e a banda vê reconhecido o seu esforço em fazer um disco acústico de rock simples, despojado, mas com o mesmo estilo dos seus melhores discos.
Em 2002, em seguida a turnê "desplugada" o Capital retorna com energia total às guitarras com um CD totalmente rock n' roll. Com Yves Passarell adquirindo o posto de guitarrista, é lançado Rosas e Vinho Tinto. Os sucessos: "À sua maneira" e "Mais" estouram nas rádios e o disco logo consegue a marca de 200.000 cópias comercializadas.
Em 2004 a banda lança o CD Gigante!. Em 2005, a banda alcança uma antiga aspiração: regravar antigas e inéditas músicas do Aborto Elétrico, grupo punk de Brasília, composto por Renato Russo e os irmãos Fê e Flávio Lemos, que originaram a Legião Urbana e o Capital Inicial, no CD: MTV Especial: Aborto Elétrico.
Recentemente, o Capital continua lançando discos. Em 2007, veio Eu Nunca Disse Adeus. Neste álbum destaque para as faixas, "A Vida É Minha", "Eu e Minha Estupidez", "Aqui", e o primeiro single "Eu Nunca Disse Adeus". Dinho Ouro Preto teve um acidente em 2009 (queda do palco que ocasionou traumatismo cranianano e fratura na costela). Quando voltou foi preparado o novo álbum e Das Kapital foi lançado em 2010. Os singles dessa fase são: "Depois da Meia-Noite", "Vivendo e Aprendendo" e "Como se Sente".
O mais recente álbum da banda se chama Saturno e foi lançado em 2012. As principais músicas são "O Lado Escuro da Lua" e "Saquear Brasília" e "O Bem, o Mal e o Indiferente".

Discografia (em ordem decrescente)

Capital Inicial (Polygram, 1986)

Independência (PolyGram, 1987)

Você Não Precisa Entender (PolyGram, 1988)

Todos os Lados (PolyGram,1989)

Eletricidade (BMG, 1991)

Rua 47 (Qualé Cumpadi Records, 1994)

Atrás dos Olhos (Abril Music, 1998)

Rosas e Vinho Tinto (Sony BMG, 2002)

Gigante (Sony BMG, 2004)

MTV Especial: Aborto Elétrico (Sony BMG, 2005)

Eu Nunca Disse Adeus (Sony BMG, 2007)

Das Kapital (Sony Music, 2010)

Saturno (Sony Music, 2012)

domingo, 1 de novembro de 2015

Os Mutantes

Os Mutantes são uma banda brasileira formada em 1966 por Rita Lee (vocais, flauta, harpa e composição), Sérgio Dias (guitarra, violão, vocais, e composição) e Arnaldo Baptista (baixo, teclado, vocais, e composição).
Embora durante seus anos de atividade fossem pouco conhecidos internacionalmente, Os Mutantes foram um dos grupos mais dinâmicos, talentosos e revolucionários da era psicodélica. Três experimentalistas musicais, a banda inovou no uso de feedback, distorção e truques de estúdio de todos os tipos.
A história dos Mutantes começa em 1964, quando Arnaldo Baptista é chamado para entrar no grupo The Wooden Faces por seu irmão Cláudio César Dias Baptista, então guitarrista da banda. Um ano depois, discordâncias em relação ao estilo musical que os Wooden Faces deveriam usar decretam o fim do grupo. Arnaldo e outro integrante, Raphael Villardi, conhecem Rita Lee e resolvem formar com Sérgio, irmão mais novo de Baptista, uma banda chamada Six Sided Rockers. Cláudio César fica "nos bastidores" construindo todo o equipamento, mesas de som e instrumentos da banda, até as lendárias Guitarras de Ouro de Sérgio e Raphael.
Em 66, gravam um compacto pela gravadora Continental com as músicas "Suicida” e “Apocalipse", como O'Seis. A banda não autoriza, contudo a gravadora decide lançar a gravação, que vende pouco mais de 200 cópias.
Durante uma briga no O'Seis, no final de 1965, com a saída de alguns integrantes e entrada de outros, o grupo mudou o nome para O Konjunto. Quando a formação da banda se reduziu a apenas um trio: Os Bruxos que logo a seguir foram rebatizados de Os Mutantes, por sugestão de Ronnie Von. Após conhecerem o cantor Ronnie Von, o grupo é convidado para acompanhá-lo em seu novo programa na TV Record. No dia 15 de outubro a banda tem sua estréia televisiva no programa O Pequeno Mundo de Ronnie Von. Em 1967, acompanham Gilberto Gil no Terceiro Festival da Record, ficando em segundo lugar com a canção Domingo no Parque. O evento marca a aproximação da banda com o movimento tropicalista.
Já em 1968 lançam seu primeiro LP pela Polydor, Os Mutantes um compacto com “O relógio” (de sua autoria), bastante inovador e experimental, claramente influenciado pelo trabalho dos Beatles. Com Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Tom Zé, Nara Leão, entre outros, gravaram em 1968 o LP Tropicália ou Panis et circensis, pela Philips.
Enquanto isso sozinhos, pela mesma gravadora lançam o segundo álbum em 69, Mutantes com “O relógio”, “Batmacumba” (Gilberto Gil e Caetano Veloso) e “Trem fantasma “(com Caetano Veloso) “Dom Quixote e Algo mais”. O conjunto aumentou com a entrada do baterista Dinho e do baixista Liminha.
A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado, lançado em 1970, foi um marco na carreira do grupo, que tenta se distanciar do tropicalismo e abraçar de vez o rock com os hits “Ando meio desligado” (Arnaldo e Sérgio) e “Desculpe, baby”. (Arnaldo e Rita Lee). Em 1970 concorreram ao V FIC com as duas músicas já citadas.
Em 71, o baixista Liminha e o baterista Dinho Leme são efetivados no grupo, que lança o disco Jardim Elétrico, com “Technicolor”, “It’s very nice pra chuchu” e o hard rock “Jardim elétrico”.
Em março de 1972 chega às lojas o disco Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets apresentando “Mande um abraço pra velha” , lançado em um dos períodos mais críticos da história brasileira. O álbum foi até mesmo censurado pelos militares. A faixa “Cabeludo Patriota” teve de mudar de nome, pois foi considerada subversiva e em sua gravação original, após ter sido censurada, foi mudada. Foram introduzidos efeitos vocais sobrepostos para esconder a frase "...o meu cabelo é verde e amarelo...". O LP inclusive mostra a transição da banda em direção ao rock progressivo, com influências evidentes dos grupos Emerson, Lake & Palmer e Yes.
Essa guinada seria um dos fatores que acabaria afastando Rita Lee do restante do grupo, e no final do ano a banda participa de seu último festival, o Sétimo Festival Internacional da Canção, onde são desclassificados em uma das primeiras fases. Em seguida, a vocalista anuncia sua saída dos Mutantes.
Em 1973, a banda então estréia um espetáculo, 2000 Watts de Som, e inicia a gravação de seu primeiro álbum sem Rita Lee, O A e o Z. Totalmente progressivo e cheio de temas e viagens instrumentais, o resultado final é considerado decepcionante pela gravadora Phonogram, que já desapontada com a saída de Rita, decide dispensar o grupo. Esse álbum foi lançado em 92.
Arnaldo lançou em 1974, pela Philips, um LP individual, Loki?, com “Será que eu vou virar bolor?” e “Cê tá pensando que eu sou loki?” (ambas de sua autoria).Os Mutantes continuam suas atividades, porém Arnaldo, já bastante debilitado mentalmente pelo uso contínuo de drogas (em especial o LSD) deixa a banda, seguido pelo baterista Dinho. Em 1975, foi lançado o bom e progressivo álbum Tudo foi feito pelo Sol. A poética utilizada nessa fase progressiva da banda era um “messianismo lisérgico”.

Liderada por Sérgio Dias, a banda consegue um contrato com a gravadora Som Livre e muda-se para Petrópolis, mas Sérgio passa por um período turbulento, tendo de lidar com várias brigas internas e trocas de integrantes. Depois de mais dois álbuns: os discos Cavaleiros negros (um compacto), de 1976 e Mutantes ao vivo, de 1977, todos pela Som Livre, ele decide terminar com o grupo em 1978.

O último show, no dia 6 de junho em Ribeirão Preto (e que ainda tinha, pilotando a mesa de som, Cláudio César Dias Baptista), não poderia ser mais bucólico: apenas cerca de 200 pessoas comparecem. Após lançar um disco solo, Sérgio então muda-se para os Estados Unidos, onde passa a trabalhar como músico de estúdio, dedicando-se principalmente ao Jazz.

Em 1982, Arnaldo Batista lançou seu segundo disco solo, Singin’ alone, pela gravadora independente Baratos e Afins. Pianista exímio, de formação erudita, Arnaldo é considerado o elo entre o pop tropicalista dos anos de 1960 e 1970 e o rock brasileiro renascido a partir da década de 1980.

Em 1996 foi lançado o disco-tributo aos Mutantes, Triângulo sem bermudas, pela gravadora Natasha, com vários artistas, incluindo Kid Abelha, Pato Fu, Lulu Santos, Arnaldo Antunes e Planet Hemp, interpretando clássicos do grupo.

No ano 2000 a gravadora Universal, dona do catálogo da extinta Polydor, finalmente resolve lançar Technicolor, que apresenta as canções gravadas pela banda durante sua passagem pela França em 1970. A ilustração e a caligrafia do álbum é da autoria de Sean Lennon.

Em abril de 2006, Os Mutantes anunciam o começo de um novo ciclo e o tão esperado retorno aos palcos com Sérgio Dias, Arnaldo Baptista e Dinho Leme, baterista da formação original do grupo, com uma turnê pela Inglaterra e Estados Unidos. Para as partes vocais originalmente feitas por Rita Lee, foi chamada a cantora Zélia Duncan, convidada especial da banda. A primeira apesentação dos novos Mutantes em Londres foi gravada para futuro lançamento em CD e DVD, pela gravadora Sony BMG.

Uma curiosidade interessante sobre o grupo é que a guitarra de ouro de Sérgio, criada por seu irmão Claudio Cesar possuía uma maldição: "Conjuração do Sábado" gravada em uma placa banhada a ouro na parte traseira da guitarra: "Que todo aquele que desrespeitar a integridade deste instrumento, procurar ou conseguir possuí-lo ilicitamente, ou que dele fizer comentários difamatórios, construir ou tentar construir uma cópia sua, não sendo seu legítimo criador, enfim, que não se mantiver na condição de mero observador submisso em relação ao mesmo, seja perseguido pelas forças do Mal até que a elas pertença total e eternamente. E que o instrumento retorne intacto ao seu legítimo possuidor, indicado por aquele que o construiu”.

Discografia:

Os Mutantes (Polydor,1968)

Mutantes (Polydor,1969)

A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (Polydor,1970)

Technicolor (Polydor,1970 - Univ.Music,1999)

Jardim Elétrico (Polydor,1971)

Mutantes e seus Cometas no País do Baurets (Polydor,1972)

Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida (Polydor,1972)

O A e o Z (Philips,1992 - original de 1973)

Tudo foi feito pelo Sol (Som Livre,1974)

Ao Vivo (Som Livre,1976)